COMUNHÃO COM DEUS
Reflexão em Atos 2.42 - Luiz Nascimento
Prefácio
Neste e-book, exploramos os fundamentos bíblicos da comunhão autêntica, centrada na fidelidade à Palavra de Deus. Através de uma jornada profunda, descobriremos como a koinonia (comunhão) genuína gera mais koinonia, fortalecendo nossa relação com o Senhor e com os irmãos em fé. O nosso objetivo é inspirar você leitor a buscar uma comunhão mais profunda com Deus e com os irmãos em fé, baseada na fidelidade à Palavra, generosidade e unidade na oração. Que esta jornada nos leve a uma relação mais íntima com o Senhor e a uma igreja mais unida. Acompanhe-nos nesta reflexão bíblica sobre a c omunhão. Que o Espírito Santo nos guie e nos une em Cristo.
Com bênçãos, Pr. Luiz Nascimento
A FIDELIDADE À PALAVRA GERA COMUNHÃO.
Atos 2.42 Todos se dedicavam de coração ao ensino dos apóstolos, à comunhão, ao partir do pão e à oração.
Pano de fundo
Jesus havia ressuscitado como diz em Lucas 24.7 “ É necessário que o Filho do Homem seja traído e entregue nas mãos de pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia’". Depois de ressurreto foi visto por várias pessoas ,1 Coríntios 15. 4 -7 “Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como dizem as Escrituras. Apareceu a Pedro e, mais tarde, aos Doze. Depois disso, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda está viva, embora alguns já tenham adormecido. Mais tarde, apareceu a Tiago e, posteriormente, a todos os apóstolos”.
Antes da ascensão de Jesus, Ele orientou os discípulos sobre o que deviam fazer. Atos 1. 4,5,8 “Certa ocasião, enquanto comia com eles, deu-lhes a seguinte ordem: "Não saiam de Jerusalém até o Pai enviar a promessa, conforme eu lhes disse antes.João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo".Vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em toda parte: em Jerusalém, em toda a Judeia, em Samaria e nos lugares mais distantes da terra". Isto se cumpriu em Atos 2. 01-04 1 “No dia de Pentecostes, todos estavam reunidos num só lugar. De repente, veio do céu um som como o de um poderoso vendaval e encheu a casa onde estavam sentados. Então surgiu algo semelhante a chamas ou línguas de fogo que pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os habilitava.”
A partir daí tudo que vamos ver é a ação do Espírito Santo na vida dos apóstolos e da igreja primitiva. Atos 2.42 “Todos se dedicavam de coração ao ensino dos apóstolos, à comunhão, ao partir do pão e à oração. Havia em todos eles um profundo temor, e os apóstolos realizavam muitos sinais e maravilhas.Os que criam se reuniam num só lugar e compartilhavam tudo que possuíam. Vendiam propriedades e bens e repartiam o dinheiro com os necessitados, adoravam juntos no templo diariamente, reuniam-se nos lares para comer e partiam o pão com grande alegria e generosidade, sempre louvando a Deus e desfrutando a simpatia de todo o povo. E, a cada dia, o Senhor lhes acrescentava aqueles que iam sendo salvos”.
As bases, fundamentos, alicerces e respaldos de toda esta ação do Espírito Santo na vida dos apóstolos e da igreja primitiva é a dedicação e o temor aos ensinos da palavra e doutrina do próprio Espírito Santo. Atos 2.42 “Todos se dedicavam de coração ao ensino dos apóstolos...” 43 “Havia em todos eles um profundo temor... “
1 - A DOUTRINA OU ENSINAMENTOS DOS APÓSTOLOS APONTAVAM PARA CRISTO E NÃO PARA ELES MESMOS.
O vocábulo “apóstolo” vem do latim “apostolus” e do grego apóstolos. Em linhas gerais, juntos, esses termos indicam ao menos duas verdades: 1) a figura de um mensageiro, autorizado a falar em nome daquele que o enviou; e 2) a ideia do enviado, mas com ênfase maior em quem enviou, e não necessariamente sobre aquele que foi enviado. Com essa informação, conclui-se parcialmente que a autoridade sob a qual os apóstolos cumpriram exitosamente a missão recebida não lhes era inerente; pelo contrário, ela foi recebida, isto é, foi-lhes dada pelo Senhor da igreja a quem eles foram chamados a servir. O conceito de autoridade empregado aqui é aquele que designa a dignidade de alguém em ser ouvido e atendido naquilo que fala, e isso é bem difundido na maioria das cartas do Novo Testamento, especialmente nas suas introduções: Romanos1.1 “Eu, Paulo, escravo (servo) de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo e enviado para anunciar as boas-novas de Deus, escrevo esta carta”. 1 Pedro1.1 “Eu, Pedro, apóstolo (mensageiro) de Jesus Cristo, escrevo esta carta aos escolhidos que vivem como estrangeiros nas províncias de Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia.”
Nenhuma das cartas apostólicas está fundamentada na autoridade dos apóstolos em si; muito pelo contrário, elas firmam-se na autoridade do Senhor Jesus, de quem os apóstolos receberam autoridade, ou ainda autorização para ensinar no seu próprio nome. Há muitas passagens bíblicas que atestam essa verdade, mas poucas, como o texto de 1 Timóteo 1.15, como se lê: “Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Observe duas qualidades da mensagem ensinada pelos apóstolos, aqui representado em Paulo: 1) fidelidade, cujo sentido é o de pureza, firmeza e lealdade àquilo que lhe foi confiada pelo Senhor; e 2) digna de toda aceitação, em virtude da sua fonte divina e, justamente, porque o apóstolo não maculou e nem misturou a mensagem originalmente recebida. Além desse aspecto qualitativo do conteúdo dos ensinamentos apostólicos, o texto em questão realça o lugar do próprio apóstolo (alvo da mensagem) a Cristo (conteúdo central da mensagem), como se vê: 1) a doutrina dos apóstolos firma-se em Cristo; e 2) Paulo deixa claro que a sua posição nesse processo é a de beneficiado, e não de fonte de autoridade.
QUAL É A RELAÇÃO DISTO TUDO COM A COMUNHÃO?
1 Coríntios 1.10-17 " Irmãos, suplico-lhes em nome de nosso Senhor Jesus Cristo que vivam em harmonia uns com os outros e ponham fim às divisões entre vocês. Antes, tenham o mesmo parecer, unidos em pensamento e propósito. Pois alguns membros da família de Cloe me informaram dos desentendimentos entre vocês, meus irmãos. Refiro-me ao fato de alguns dizerem: "Eu sigo Paulo", enquanto outros afirmam: "Eu sigo Apolo", ou "Eu sigo Pedro", ou ainda, "Eu sigo Cristo". Acaso Cristo foi dividido? Será que eu, Paulo, fui crucificado em favor de vocês? Alguém foi batizado em nome de Paulo? Graças a Deus, não batizei nenhum de vocês, exceto Crispo e Gaio, de modo que ninguém pode dizer que foi batizado em meu nome. Sim, também batizei a família de Estéfanas, mas não me lembro de ter batizado mais ninguém. Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar as boas-novas, e não com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não perca seu poder.”
O Apóstolo Paulo está chamando a atenção da igreja de Corinto justamente pelo fato de que estavam em um embate de preferências entre seus líderes, não tinham entendido que por mais habilidosos que fossem ou que se destacassem com seus dons e talentos, nada era deles, como lemos no início, a autoridade, a unção, o poder, pertence a Cristo e Ele entregou aos seus apóstolos com uma finalidade única: à glória Dele. A igreja de Corinto estava com problema sério de divisão e facção apesar de ser uma igreja extremamente carismática no sentido dos dons espirituais, mas havia ali um problema que impedia a comunhão entre os irmãos, eles precisavam compreender que o Senhor da igreja é Cristo. Reconhecemos que alguns irmãos se destacam naquilo que fazem enquanto servos de Cristo, mas há uma linha muito tênue entre a humildade e a soberba, e, se não cuidarmos disto com certa atenção, vamos tendo os nossos preferidos dentro da igreja e isto é perigosíssimo tanto para os que recebem os aplausos quanto para os que aplaudem.
O inimigo tem suas astúcias e conhece muito sobre as nossas fragilidades. Sabe o quanto gostamos dos elogios e reconhecimentos. A questão é que entre outros problemas da igreja de Corintos, um deles é por conta de quem era do grupo de quem, impedindo a comunhão entre os irmãos. Os apóstolos não eram donos da verdade, eram mensageiros da verdade. Não teham preferidos dentro da igreja, não sejam bajuladores daqueles que estão em evidência, lembre-se que devemos glorificar a Deus pela vida destes irmãos, mas não os exaltar, isto causa dissensões no seio da igreja.
2 - A DOUTRINA OU ENSINAMENTOS DOS APÓSTOLOS GERA AMOR.
Paulo escreveu em Romanos 11.36: “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” Quando pensamos neste versículo, o amor de Cristo aparece como um CARÁTER genuíno da doutrina dos apóstolos. Do ponto de vista bíblico e considerando o desejo de Deus para o seu povo, é inconcebível a ideia de um crente ter compromisso com a doutrina se o amor é rejeitado; muito pelo contrário, à luz das Escrituras, doutrina e amor devem caminhar juntos, pois, se um cair, o outro também há de cair. Em certa medida, um depende do outro no cumprimento da sua missão individual. As palavras de Jesus, conforme registradas em João 15.9-14 "Eu os amei como o Pai me amou. Permaneçam no meu amor. Quando vocês obedecem a meus mandamentos, permanecem no meu amor, assim como eu obedeço aos mandamentos de meu Pai e permaneço no amor dele. Eu lhes disse estas coisas para que fiquem repletos da minha alegria. Sim, sua alegria transbordará! Este é meu mandamento: Amem uns aos outros como eu amo vocês. Não existe amor maior do que dar a vida por seus amigos. Vocês serão meus amigos se fizerem o que eu ordeno.”
O apóstolo Pedro entendeu isso muito bem, razão por que a virtude do amor é muito presente nos seus ensinos doutrinários. A sua compreensão acerca da relação entre doutrina e amor advém do seu relacionamento pessoal e presencial durante o ministério terreno de Jesus, especialmente no seu último diálogo com o Mestre, no qual por três vezes Pedro é indagado se amava o Senhor efetivamente (Jo 21.15-17). 1 Pedro 4.8 “Acima de tudo, amem uns aos outros sinceramente, pois o amor cobre muitos pecados”. Não é por acaso que João tem sido identificado como “o apóstolo do amor” — aliás, essa é, sem dúvida, a sua mais conhecida identidade. Isso se dá porque o tema do amor é central nos seus ensinos e molda tudo o que ele elaborou como conteúdo doutrinário. 1João 3. 11 “Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que amemos uns aos outros”. 1 João 4.19 “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. 1 João 4.11 “Amados, visto que Deus tanto nos amou, certamente devemos amar uns aos outros”.
Quando lemos filipenses vemos o apóstolo Paulo usando verdades do caráter de Cristo para deixar claro que a comunhão com Deus e sobretudo com os irmãos se dá quando compreendemos que assim como Cristo sendo quem era não se exaltou, não era altivo e nem soberbo. Vejam: “Há alguma motivação por estar em Cristo? Há alguma consolação que vem do amor? Há alguma comunhão no Espírito? Há alguma compaixão e afeição? Então completem minha alegria concordando sinceramente uns com os outros, amando-se mutuamente e trabalhando juntos com a mesma forma de pensar e um só propósito. Não sejam egoístas, nem tentem impressionar ninguém. Sejam humildes e considerem os outros mais importantes que vocês. Não procurem apenas os próprios interesses, mas preocupem-se também com os interesses alheios.Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que devesse se apegar. Em vez disso, esvaziou a si mesmo; assumiu a posição de escravo e nasceu como ser humano. Quando veio em forma humana, humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o elevou ao lugar de mais alta honra e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, para que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua declare que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai”. Filipenses 2.1-11
3 - A DOUTRINA OU ENSINAMENTOS DOS APÓSTOLOS É SOBRE SERVIR UNS AOS OUTROS.
Os textos do Antigo Testamento apontavam para o caráter de servo que Jesus assumiria em seu ministério terreno, com o propósito de atender aos necessitados (Is 61.1-3) “O Espírito do Senhor Soberano está sobre mim, pois o Senhor me ungiu para levar boas-novas aos pobres. Ele me enviou para consolar os de coração quebrantado e para proclamar que os cativos serão soltos e os prisioneiros, libertos. Ele me enviou para dizer aos que choram que é chegado o tempo do favor do Senhor e o dia da ira de Deus contra seus inimigos. A todos que choram em Sião ele dará uma bela coroa em vez de cinzas, uma alegre bênção em vez de lamento, louvores festivos em vez de desespero. Em sua justiça, serão como grandes carvalhos que o Senhor plantou para sua glória.”
Os apóstolos lançaram as bases da doutrina cristã, e Cristo é o fundamento central. Uma vez que o serviço foi uma das características fundamentais do ministério de Jesus, essa virtude não poderia estar fora dos ensinos apostólicos. Historicamente, o serviço a Deus e ao próximo é visto como fruto da doutrina dos apóstolos a partir do registro no livro dos Atos. Doutrinariamente, o apóstolo Pedro ensina que os dons espirituais devem ser usados em favor do Corpo de Cristo, tratando-os como um serviço. No mesmo contexto, ele indica que o cristão é chamado a sofrer à semelhança de Cristo, ou seja, trabalhar em favor da Igreja, do Reino de Deus. No ensino de João, o cristão deve estar pronto a servir o seu próximo com os seus bens e com a sua própria vida 1 Jo 3.16,17,18. “Sabemos o que é o amor porque Jesus deu sua vida por nós. Portanto, também devemos dar nossa vida por nossos irmãos. Se alguém tem recursos suficientes para viver bem e vê um irmão em necessidade, mas não mostra compaixão, como pode estar nele o amor de Deus? Filhinhos, não nos limitemos a dizer que amamos uns aos outros; demonstremos a verdade por meio de nossas ações”.
Jesus é o alicerce da doutrina cristã, o modelo de servo a ser seguido pelos seus discípulos e todos os crentes. Paulo rogou aos irmãos da igreja em Roma para que não se amoldassem aos padrões deste mundo, mas que mudassem a forma Rm 12.2 “Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês”. Segundo a forma de pensar deste mundo, maior é o que é servido, aquele que está assentado à mesa. Entretanto, Jesus Cristo ensinou que no Reino de Deus maior é o que serve Lc 22.26,27. “Entre vocês, porém, será diferente. Que o maior entre vocês ocupe a posição inferior, e o líder seja o servo. Quem é mais importante, o que está à mesa ou o que serve? Não é aquele que está à mesa? Mas não aqui! Pois eu estou entre vocês como quem serve”. Portanto, uma vida cristã bíblica e madura é marcada pelo serviço a Deus e ao próximo.
A doutrina dos apóstolos está fundamentada e m Jesus Cristo, e tal verdade implica aspectos teóricos e práticos. Os ensinamentos dos apóstolos revela o que os crentes de todos os tempos, precisam crer e praticar. Aprendemos a respeito da praticidade dos ensinos apostólicos, indicando a expectativa de Deus e das pessoas em relação à Igreja. Isso se dá em dois aspectos : o primeiro é o amor, como fruto da verdadeira doutrina, o segundo é o serviço abnegado, do qual o Senhor Jesus é o exemplo maior.
Não devemos impor nenhuma condição para a aceitação de nossos irmãos, a não ser as que Deus impôs para aceitá-los. Matthew Henry

